quarta-feira, 4 de março de 2015

Catarata em cães e gatos

A catarata é identificada pelos proprietários de pequenos animais como “um olho esbranquiçado”, sendo mais comum em cães, porém também pode acometer gatos. Seu desenvolvimento tem relação com a genética do animal, mas em geral tem causa desconhecida. Comumente atinge animais de idade avançada, mas também pode se desenvolver em animais jovens.
O que é visto pelo proprietário é resultado de uma desorganização das fibras lenticulares que resulta em perda de transparência do cristalino. Para que animais possam enxergar, essa transparência é necessária. Com sua opacificação a penetração do feixe de luz fica prejudicada e consequentemente prejudica-se a formação da imagem pelos mecanismos neurológicos envolvidos.
A catarata senil começa a se desenvolver em cães e gatos com mais de 6 anos de idade, quando observada em animais idosos é considerada de caráter crônico.
Distúrbios, como uveíte recorrente, glaucoma crônico, trauma, doença degenerativa da retina ou diabetes melito, podem produzir a catarata em animais idosos. Esta deve ser diferenciada da esclerose nuclear senil, uma alteração normal em animais idosos, produzida pela compressão das fibras centrais do cristalino (2).
O diagnóstico é feito através dos sinais clínicos, porém quanto à evolução e à localização torna-se necessária a avaliação de um médico veterinário especializado em oftalmologia.
O tratamento é exclusivamente cirúrgico, o animal deve apresentar bom estado de saúde, exige exames pré-cirúrgicos, tem custo elevado e deve ser realizado por um profissional especializado, exigindo instrumental específico. 
Rotineiramente a cirurgia realizada é chamada de facoemulsificação e pode ser realizada nos dois olhos aos mesmo tempo(1)Há duas possibilidades de cirurgia, com ou sem lente intraocular artificial. Animais que permanecem sem a lente artificial permanecem com hipermetropia(1). Animais com implante podem desenvolver uveíte crônica de baixo grau, podendo ter comprometimento da luminosidade ocular e visão(2).
A catarata pode causar a uma inflamação ocular denominada uveíte, portanto, quanto mais cedo for realizada a cirurgia, melhor será o resultado por não termos tais alterações oftálmicas. A cirurgia é contra-indicada em animais com descolamento ou atrofia de retina. Acima de 90% dos casos são bem-sucedidos quando manejados e operados de forma correta, porém 100% dos casos desenvolvem uma opacidade futuramente, principalmente em cães mais jovens, denominada de catarata secundária(1).
Quando madura, a catarata pode levar a luxação do cristalino, podendo resultar em alterações da pressão intraocular, culminando em lesões típicas de glaucoma crônico. Poodles miniaturas com mais de 11 anos de idade são predispostos a este quadro(2).
Cães são predispostos ao desenvolvimento da catarata diabética. Gatos diabéticos com mais de 4 anos não têm essa predisposição por terem baixa concentração sanguínea da enzima responsável pela conversão de glicose próxima da lente em sorbitol. A cirurgia pode ser indicada para esses animais quando diagnosticada precocemente e a doença estabilizada. Sua rápida evolução pode levar a alterações que dificultam o procedimento.
Vale ressaltar que animais impossibilitados de cirurgia e e em tratamento para possíveis alterações como uveíte e glaucoma, adaptam-se bem ao ambiente e podem levar uma vida normal, não sendo indicada a eutanásia desses animais.

Referências:

(1)   CRIVELLENTI, L.Z. , CRIVELLENTI, S.B.. Casos de Rotina em Medicina Veterinária de Pequenos Animais. Págs. 419-423. Editora ROCA, 1ª Edição, 2012.
(2)   HOSKINS, J.D.. Geriatria e Gerontologia do cão e gato. Págs.297-298. Editora ROCA, 2ª Edição, 2008.


quarta-feira, 14 de maio de 2014

Adquirindo um animal de estimação...primeiras dicas!

 
Adquirir um animal de estimação pode parecer uma tarefa fácil, mas exige algum preparo para isso.
Antes de mais nada, ao adquirir um filhote deve-se ter em mente que é uma vida, ele sentirá fome, sede, dor, medo, calor, frio e dependerá exclusivamente da ou das pessoas que com ele conviverem.
Pesquisar sobre a espécie e raça do animal que escolheu, entender suas características comportamentais e físicas facilita a adaptação proprietário-animal.
O primeiro ano da vida do seu bichinho será o mais importante para ele e aqui vão algumas dicas de como se preparar para recebê-lo!
  •  Escolha um nome 
Opte por nomes curtos, será mais fácil para seu animal aprender.

  •  Identifique
Coloque uma plaquinha de identificação com nome e telefone de contato legíveis. Muitos animais se perdem e não retornam ao seu lar por falta de identificação.

  • Providencie vasilhas de água e comida
Devem ser resistentes e fáceis de limpar, sendo adequadas ao porte do animal. Devem ser lavadas diariamente!

  •  Coleira e guia
Seu filhote só poderá sair de casa após finalizar o esquema de vacinação, mas a coleira pode ser usada em casa para adaptar o animal ao uso. A mesma deve ficar confortável na região do pescoço, com 1 a 2 dedos de largura de folga entre ela e o pescoço.

  • Artigos para higiene do filhote
Providencie uma escova para os pelos e xampu suave para o banho, o qual deverá ocorrer após orientação veterinária. Em lojas de produtos veterinários é possível encontrar material para a higiene bucal (escova dentária e gel dentário), a qual também deve ser realizada no filhote para manter a saúde bucal e deve ser iniciada o mais precoce possível para que ele se acostume com o ato; cortador de unha também será útil. 

  • Brinquedos
Para cães, brinquedos de mastigar ajudarão a evitar que eles roam móveis da casa. São indicados também bolas e cordas com nós, sendo indicado evitar brincadeiras que estimulem os cães a lutar com o proprietário.
Para gatos são indicados arranhadores onde afiarão suas unhas, evitando que arranhem móveis da casa. Também são indicadas bolas e brinquedos com penas.

  • Cama
Seu novo amigo precisa ter um local que seja dele, sendo seu refúgio um local seguro e tranquilo. Sua cama deve ter forro de material lavável e deve permanecer em um local protegido de chuva, frio ou calor em excesso. Nas primeiras noites o filhote pode se sentir sozinho e chorar bastante. Mantê-lo com panos com cheiro da mãe, relógio fazendo tic-tac ao seu lado ou um rádio com volume bem baixo podem ajudá-lo a relaxar e dormir melhor. Ao escolher o local onde irá dormir, considere a que áreas da casa e do quintal ele poderá ter acesso. Lembre-se que essa é sua fase de aprendizado e seus limites devem ser definidos desde então. Para facilitar o treinamento é bom restringir sua liberdade. Filhotes de cães tendem a roer todos os objetos que encontram, portanto cuidado com os objetos dispersos pela casa e providencie a ele brinquedos seguros para roer.

  • Local para suas necessidades diárias
O proprietário de cão pode optar por jornal ou tapete higiênico. O animal também pode ser condicionado a utilizar um local com grama. Lembre-se que estamos falando de um filhote e ele está aprendendo o que pode ou não pode fazer. É responsabilidade do proprietário ensinar o local que deverá ser utilizado para defecar e urinar. Estimule-o dando recompensas quando utilizar o local correto, brinque com ele ou lhe dê algum petisco em troca. Quando falhar, corrija-o com frases curtas e firmes, assim irá condicioná-lo e ele entenderá que será melhor ir até o local correto para fazer suas necessidades. Não exija demais do seu bichinho, isso pode levar meses.
Proprietário de gato tende a ter menos trabalho. Estimule-o a fazer uso da liteira com areia própria para gatos (pedras de sílica têm maior durabilidade e diminuem o odor das fezes e urina no ambiente). Gatos não precisam ter acesso à rua e prefira que defeque e urine em casa, isso permite reconhecer problemas urinários e fecais com mais facilidade.
Mantenha o local sempre limpo!

  •  Escolha do alimento
Escolha uma ração de boa qualidade, o alimento fornecido no primeiro ano de vida é vital ao desenvolvimento do filhote. Oferecer um alimento nutricionalmente balanceado, sem carências nem excessos, ajuda a prevenir problemas de saúde. Ao fornecer o alimento correto ao longo de toda vida do seu animal, estará auxiliando na prevenção de doenças que ocorrem na vida adulta, como obesidade, diabetes, doenças renais e cardíacas. Cães e gatos devem receber alimento específico para sua espécie (gatos não são "cachorros pequenos"!) e voltados para filhote até um ano de idade. Sempre que optar pela troca da ração, esta deve ser feita de forma gradativa, misturando a ração antiga com a nova. É importante que o proprietário veja no rótulo da ração escolhida qual a porção diária de alimento para o porte do animal e divida essa porção em 3 a 4 refeições diárias, evitando que exceda a quantidade de alimento fornecido.
Filhotes não controlam sua saciedade, sendo assim o quanto de alimento estiver disponível, ele comerá. É importante o cuidado com o excesso de petiscos, sejam eles os industrializados ou frutas. Devem ser introduzidos na dieta lentamente, atentando-se ao fato de que podem substituir a refeição por petisco, desequilibrando a dieta. 
Não suplemente seu animal com vitaminas sem orientação médico-veterinária, a gordura, proteína e sais minerais (como cálcio e fósforo) ajudam a construir ossos e músculos fortes e fornecem energia ao animal, no entanto, o excesso desses nutrientes pode causar obesidade, distúrbios ósseos, doenças renais e cardíacas.

  • Vermifugação e vacinação
Não vermifugue seu animal sem orientação veterinária. Ao adquirir um animal preocupe-se com sua primeira consulta com um veterinário de confiança, nesta serão dadas todas orientações gerais, incluindo como deve ser feito o esquema de vermifugação, respeitando o peso do animal.
Cães devem iniciar a vacinação (VH10) aos 45 dias, recebendo 3 doses da mesma vacina com intervalo de 21 dias entre elas. Gatos devem iniciar a vacinação (quádrupla felina) aos 60 dias e também deve receber 3 doses com intervalo de 21 dias. Após os 90 dias ambos podem ser vacinado contra a raiva. Cães ainda podem ser vacinados contra "Tosse dos canis", Giardia, Leptospirose e Leishmaniose.
Por toda a vida, seu animal deve receber reforço das vacinas anualmente! 
Não vacine seu animal em lojas agropecuárias, somente os veterinários são habilitados para tal procedimento e podem garantir uma vacina de qualidade.
É importante que se respeite o período definido entre cada dose para que haja correta estimulação antigênica no animal, garantindo imunidade contra as doenças prevenidas pela vacina (em breve uma postagem sobre a vacinação!).

  • Controle de ectoparasitas
Pulgas e carrapatos são transmissores de doenças aos cães e gatos e devem ser controlados com produtos específicos. No caso de filhotes o cuidado deve ser ainda maior, visto que há maior risco de intoxicação. Ácaros causadores de otite (infecção do ouvido) são relativamente comuns em filhotes, causando prurido  otológico intenso.

 Esses são os primeiros passos...em breve novas dicas de como cuidar do seu animal de estimação!


Referência:
Manual do filhote - Hill´s Pet Nutrition

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Intoxicação por Comigo-ninguém-pode



   Cães e gatos são animais curiosos e tendem a explorar o ambiente onde vivem, sendo assim, seus proprietários devem se preocupar com tudo aquilo a que podem ter acesso.
   Comigo-ninguém-pode ( de nome cinetífico Dieffenbachia amoena) é uma planta ornamental, comumente utilizada em residências e que pode causar intoxicações de grau leve a moderado nesses animais.
  Suas folhas, caule e seiva são considerados venenosos. Em sua constituição há pequenos cristais de oxalato de cálcio em forma de agulhas e proteínas tóxicas desconhecidas responsáveis pelos sintomas.
   Após a ingestão, o animal pode apresentar queimadura e inflamação da boca (estomatite) e da garganta, anorexia (perda de apetite) e vômito; pode haver diarréia, perda da voz, tremor de cabeça, salivação excessiva e dificuldade respiratória. A dor será dependente da quantidade consumida e são raros casos de morte. Ao identificar a intoxicação, o proprietário deve lavar a pele, olhos ou boca com líquidos frios para aliviar a irritação e procurar atendimento médico veterinário para controle dos sintomas. 

Fonte: NOGUEIRA, R.M.B., ANDRADE, S.F..Manual de Toxicologia Veterinária. Pág. 45-46.Editora ROCA, 2011.

          

domingo, 24 de março de 2013

Gastrite em cães e gatos




     Nossos pets também podem sofrer de gastrite, que nada mais é que uma inflamação da mucosa do estômago, a qual pode ser aguda ou crônica e tem como principal sintoma o vômito com início súbito, constituído de alimento e bile, podendo haver pequena quantidade de sangue. Os cães são mais acometidos que os gatos por selecionarem menos os alimentos.
   A gastrite aguda pode ser causada pela ingestão de alimentos contaminados, alimentos fermentáveis e não-digeríveis, objetos estranhos, plantas tóxicas, substâncias químicas ou fármacos, principalmente os antiinflamatórios não esteroidais de uso humano, como o diclofenaco, o qual JAMAIS deve ser usado em animais de companhia, e até mesmo ser decorrente de hemorragia da cavidade oral. Sabe-se que pode ter causas infecciosas, virais e bacterianas, porém, em medicina veterinária isso não foi bem identificado. 
    Entre os sintomas de gastrite aguda estão o vômito, como já dito anteriormente, depressão, letargia, pode haver dor abdominal anterior, consumo excessivo de água e desidratação. A diarreia pode acompanhar ou ocorrer após a gastrite.
    O diagnóstico é dado pelo histórico do animal e pelo exame físico. Nestes casos o animal deve apresentar melhora dentro de 1 a 3 dias após o tratamento dos sintomas, caso não haja melhora, deve-se considerar como diagnósticos diferenciais: pancreatite, corpo estranho alimentar, enterite por parvovírus, uremia, cetoacidose diabética, hipoadrenocorticismo, hepatopatia e hipercalcemia, sendo necessários exames complementares.
     O animal com gastrite aguda deve permanecer em jejum de água e alimento por, no mínimo, 24 horas, visando o controle do vômito. Deverá receber atendimento médico veterinário para controle da desidratação e da perda de eletrólitos através da soroterapia e medicações antieméticas e antiácidas por via endovenosa. Alguns casos, como os de gastrite iatrogênica, causada por fármacos, o animal pode precisar receber drogas com a função de proteger a mucosa gástrica. Antes de se reiniciar alimentação deverá receber água fresca em pequenas porções e, permanecendo sem vômito, receberá alimentação pastosa também em pequena quantidade. A saúde do animal é restabelecida com sucesso desde que seja dado o tratamento de suporte, mantendo seu equilíbrio hidro-eletrolítico.
     A gastrite crônica pode ser classificada de várias formas, pode ser linfocítica-plasmocitária, a qual pode ser uma reação imunológica e/ou inflamatória a uma variedade de antígenos, principalmente em felinos, pode ter como agente causador o Helicobacter e em cães, a Physaloptera rara; pode ser eosinofílica, representando uma reação alérgica a um possível antígeno alimentar; granulomatosa, em gatos; pode ocorrer por refluxo de bile e de conteúdo do intestino delgado no interior do estômago, o que constitui um mecanismo fisiológico normal no cão em jejum; existe a gastrite hipertrófica, um distúrbio raro em pequenos animais; e a gastrite atrófica, a qual pode resultar de uma doença inflamatória gástrica crônica e/ou de mecanismos imunes, onde a mucosa gástrica se atrofia e perde sua função secretória. Um corpo estranho gástrico e a ingestão repetitiva de material estranho também constituem causas de gastrite crônica.
     Diferentemente do quadro agudo, o animal pode apresentar vômito uma vez por semana como vários no mesmo dia, havendo também anorexia, geralmente associada à náusea. A inflamação prejudica a motilidade e retarda o esvaziamento gástrico, sendo assim, animais com gastrite crônica podem reter o alimento no estômago por longos períodos de tempo e o vômito ser caracterizado por alimento ingerido há mais de 10 horas. O diagnóstico definitivo da gastrite crônica não é tão simples, sendo necessários exames mais específicos. A ultrassonografia pode revelar a mucosa do estômago mais espessada, porém trata-se de uma informação com baixo valor diagnóstico. Nestes casos é necessária a biópsia da mucosa gástrica para fechar o diagnóstico, devendo ser realizada através da endoscopia. O tratamento e prognóstico para os quadros crônicos dependem da classificação da gastrite.
      A gastrite tende a ter um bom prognóstico quando os animais recebem atendimento médico veterinário em tempo e de maneira adequada. Os proprietários podem preveni-la evitando-se jejum prolongado nos animais, fracionando a alimentação em várias refeições; mantendo uma dieta saudável, a base de ração compatível com a espécie; não fornecendo medicações sem prescrição veterinária e informando ao médico veterinário responsável quando o animal apresentar vômito durante ou após terapia medicamentosa; tendo cuidado com acesso a plantas, produtos químicos e lixo; e buscando atendimento veterinário no início dos sintomas. Dentre as complicações, além da desidratação e desequilíbrio eletrolítico,está a evolução de gastrite aguda para crônica e até mesmo a formação de úlceras gástricas de graus variados.


Referências bibliográficas:

NELSON, R.W., COUTO, C.G. Medicina interna de pequenos animais. Pág. 405-407. 3ª edição, 2006, Editora ROCA.FORD, R.B., MAZZAFERO, E.M. Manual de procedimentos veterinários e tratamento emergencial. Pág. 166-167.8ª edição, 2007, Editora ROCA.GOLDSTON R.T., HOSKINS, J.D.. Geriatria e Gerontologia Cão e Gato. Pág. 205-207. 1ª edição, 1999, Editora ROCA.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Intoxicação por chumbinho (Aldicarb – Temik 150)

 
     O “chumbinho” é um produto ilegal, vendido clandestinamente e utilizado irregularmente como raticida e para o extermínio de cães e gatos. Esse produto não possui registro na ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e em nenhum outro órgão governamental.
     Fisicamente consiste em um granulado cinza escuro ou grafite, o qual comumente é misturado a algum tipo de alimento atrativo a animais domésticos, visando a intoxicação fatal dos mesmos.
   Os granulados tipo “chumbinho” são compostos por uma combinação ou não de agrotóxicos, os mais encontrados em sua composição são os pertencentes ao grupo dos carbamatos e ao grupo dos organofosforados. O grau de intoxicação varia com o tipo de composto e a quantidade do mesmo na composição.
    No Brasil, o aldicarb, pertencente ao grupo dos metilcarbamatos, tem o uso agrícola aprovado nos estados da Bahia, Minas Gerais e São Paulo, para agricultores cadastrados na ANVISA, mas o comércio ilegal permite seu uso doméstico. O único produto a base de aldicarb autorizado era o Temik 150, da empresa Bayer S/A, com aprovação para uso exclusivamente agrícola, como inseticida, acaricida e nematicida, para aplicação nas culturas de batata, café, citros e cana-de-açúcar.
    Carbamatos e organofosforados são agentes anticolinesterásicos, bastante lipossolúveis e sua absorção pode ocorrer por toda superfície corpórea, trato gastrointestinal, pele, pulmões e olhos. Por ser lipossolúvel, a gordura facilita sua absorção, sendo contra-indicada a administração de leite ao animal que ingerir este tipo de veneno, uma vez que a gordura do mesmo facilitará a absorção.
    Após a ingestão, o "chumbinho" é prontamente absorvido pelo trato gastrointestinal, distribuindo-se por todos os órgãos e tecidos. Sofre metabolização no fígado e é eliminado pelos rins e fezes.
    Quando dizemos que os carbamatos e organofosforados que compõe o "chumbinho" são agentes anticolinesterásicos, significa que seu mecanismo de ação consiste em inibir irreversivelmente a acetilcolinesterase, enzima que inativa a acetilcolina, um neurotransmissor importante no sistema nervoso central e periférico, sendo necessária sua liberação para que ocorra a contração muscular. Com a ação do veneno a acetilcolinesterase não age e há um excesso de acetilcolina, consequentemente há um “excesso de contração muscular”.
    Na intoxicação aguda pelo "chumbinho", observa-se náusea, vômito, bradicardia (redução da freqüência dos batimentos cardíacos), dispnéia (dificuldade para respirar), dor abdominal, aumento da motilidade gastrointestinal, sialorréia (salivação excessiva), lacrimejamento, miose (redução do diâmetro da pupila), contrações musculares, espasmos, tremores, aumento do tônus muscular causando marcha e postura rígidas, seguido de depressão do sistema nervoso central. O animal vem a óbito por parada respiratória devido a hipertonicidade dos músculos respiratórios.
    Em intoxicações leves as pupilas podem dilatar e ocorrer aumento da freqüência cardíaca.
    Há relatos de intoxicação crônica, podendo haver dano neurológico periférico induzido por desmielinização.
    Também pode ocorrer um quadro de neuropatia periférica tardia, o qual pode suceder em 7 a 21 dias ou até meses após exposição. Trata-se de uma síndrome ainda não totalmente esclarecida, semelhante à miastenia grave, apresentando fraqueza muscular, tremores, ventroflexão do pescoço, ataxia e deficiência de propriocepção. Seu tratamento é sintomático.
    O diagnóstico é feito através do histórico, sinais clínicos e alterações post mortem.
    O tratamento é emergencial e o proprietário deve procurar o mais rápido possível por atendimento veterinário, uma vez que o veneno age rapidamente. Somente um profissional da área pode realizar procedimentos que visem salvar a vida do animal, como lavagem gástrica, administração de medicamentos que impeçam a ação da toxina ou que aumentem a sua excreção, soroterapia, oxineoterapia e o tratamento de sintomas específicos, como convulsões. Alguns animais necessitam de internação.
    Como já dito anteriormente, o proprietário não deve administrar leite ao animal, uma vez que pode aumentar a absorção do veneno no trato gastrointestinal. A indução do vômito no animal consciente, administrando-se água oxigenada volume 10 ou uma solução de água com sal, pode ajudar a reduzir a quantidade de veneno presente no estômago, porém o tempo dispendido pelo proprietário nesta ação pode diminuir as chances de reversão da intoxicação, visto que apenas a indução do vômito não salvará a vida do animal.
    Não há "receita caseira" que reverta a intoxicação por "chumbinho".
    O grau de intoxicação varia com o porte do animal e a quantidade de veneno ingerida, sendo os gatos e cães de raças pequenas mais susceptíveis a quantidades menores de veneno.
   As intoxicações por “chumbinho” (aldicarb) são consideradas graves e o prognóstico varia de reservado a ruim, mais uma vez, dependendo da quantidade ingerida.
    A prevenção consiste em não utilizar este veneno!
   Quanto ao seu uso como raticida em ambientes domésticos, o “chumbinho” pode ser considerado ineficaz, uma vez que, normalmente, como o primeiro animal que ingere o veneno morre de imediato, os demais ratos observam e não consomem aquele alimento envenenado. Já os raticidas legalizados, próprios para esse fim e com registro junto a ANVISA, agem como anticoagulantes, provocando envenenamento lento nos ratos. Dessa forma, a morte do animal não fica associada ao alimento ingerido, o que faz com que todos os ratos da colônia ingiram esse tipo de veneno.
   Por se tratar de um produto clandestino, o “chumbinho” não possui rótulo com orientações quanto ao manuseio e segurança, informações médicas, telefones de emergência, descrição do ingrediente ativo e antídotos que devem ser utilizados em casos de envenenamento.
  Em junho de 2012, a ANVISA cancelou o informe de avaliação toxicológica dos agrotóxicos a base de aldicarb. No mês de outubro deste ano, o produto Temik 150 foi retirado do mercado brasileiro devido ao alto índice de intoxicação humana e envenenamento de animais, sendo seu uso  enquadrado como atividade ilícita e criminosa. A ANVISA estima que este seja responsável por 60% dos oito mil casos de intoxicação por “chumbinho” no país. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento publicou o cancelamento do registro do Temik 150, com isso, está proibida no Brasil a produção, a comercialização e o uso de qualquer agrotóxico à base de aldicarb.
 
A COMPRA E VENDA DE CHUMBINHO É CRIME. DENUNCIE!!

Escreva para a Ouvidoria da Anvisa, através do e-mail
ouvidoria@anvisa.gov.br ou para a Gerência Geral de Toxicologia da ANVISA (toxicologia@anvisa.gov.br). Seus dados serão mantidos em sigilo. Sua identificação não é necessária.

 
Referências

NOGUEIRA, R.M.B., ANDRADE, S.F.. Manual de toxicologia veterinária. Pág. 115 – 121. 1ͣ edição, 2011, Editora ROCA,.


http://portal.anvisa.gov.br/wps/content/Anvisa+Portal/Anvisa/Perguntas+Frequentes/Agrotoxico+e+Toxicologia/5fbf5580429fa2fd8ff5ef2312e9dd30

domingo, 22 de julho de 2012

Giardíase em cães e gatos...


     A giardíase é causada pelo protozoário flagelado Giárdia sp, é considerada um grave problema de saúde coletiva pela alta prevalência em humanos e animais e pela transmissão zoonótica. A Giárdia duodenalis é a causadora da doença em animais e em humanos.
· A contaminação...
     A forma de contaminação mais comum nos animais e no homem é através da ingestão de água contaminada com cistos de giárdia, podendo se dar também através dos alimentos. Sua prevalência é variável, dependendo da localização geográfica, do método utilizado para o diagnóstico e de fatores como a imunidade e condição nutricional do animal infectado, assim como a patogenicidade do protozoário, podendo causar um quadro assintomático, agudo ou crônico.
   Acomete mais comumente os caninos que os felinos. Acredita-se que sua casuística seja subestimada em pequenos animais devido à baixa sensibilidade dos métodos convencionais de diagnóstico, das infecções subclínicas e da natureza intermitente da eliminação de cistos.
    Em animais adultos, a infecção costuma ser assintomática, e raramente é detectada, sendo estes animais os prováveis disseminadores no ambiente. Já em animais jovens, com idade inferior a um ano, os sintomas e os sinais clínicos podem estar presentes e a identificação do parasito é mais facilmente obtida.
    Após a ingestão, o ácido gástrico presente no estômago ativa os cistos e permite a liberação dos trofozoítos, os quais sofrerão divisão celular e migrarão para a superfície das microvilosidades intestinais. Geralmente os parasitas são encontrados no intestino delgado, onde interferem na digestão. Os cistos são expelidos nas fezes após um período pré-patente, que varia de 6 a 14 dias. Após a ingestão por um hospedeiro apropriado, o ciclo se repetirá.
    A manifestação clinica da doença pode preceder em um a dois dias a eliminação dos cistos.

· Os sinais clínicos...
     Os sinais clínicos apresentados por cães e gatos são cólica e diarréia discreta a grave, a qual pode ser persistente, intermitente ou autolimitante, ou seja, pode permanecer por tempo prolongado, ter períodos de recidiva seguidos de melhora ou ocorrer de forma passageira, respectivamente. 
     Geralmente, os animais infectados apresentam fezes de coloração pálida, amolecidas e com odor fétido. Normalmente a diarréia não possui muco ou sangue, porém tem diversas apresentações. Alguns animais podem apresentar perda de peso, anorexia, febre, vômitos e dor abdominal. A maioria dos casos são subclínicos, especialmente em animais adultos.
·   O diagnóstico...
     O encontro de cistos ou trofozoítos de G. duodenalis presentes em amostras fecais são o meio diagnóstico definitivo de giardíase, sinais clínicos e os testes biológicos laboratoriais não garantem um diagnóstico definitivo. Contudo, um exame fecal negativo não descarta a possibilidade de infecção.
     O diagnóstico pode ser dado das seguintes formas:
- pela presença de trofozoítos nas fezes frescas ou no lavado duodenal (realizado por endoscopia), uma técnica diagnóstica que vem se mostrando mais eficaz do que a técnica usual de flutuação em sulfato de zinco, principalmente em cães que apresentam os sinais clínicos da doença, porém pouco utilizada devido ao alto custo da endoscopia e pela necessidade de anestesiar o animal;
- pelo encontro de cistos nas fezes por técnicas de flotação, utilizando-se uma solução de sulfato de zinco, sendo essa a técnica diagnóstica confiável e mais usual;
- pelo achado de proteínas de giárdia nas fezes através de um exame chamado ELISA, uma técnica imunodiagnóstica que detecta antígenos nas fezes conservadas em formol ou mantidas sob refrigeração;
- e por técnicas de diagnóstico, como a imunofluorescência e a PCR, sendo estas últimas ainda não disponíveis para diagnóstico de rotina.
     Para que possamos descartar um diagnóstico de giardíase, devemos realizar pelo menos três exames coproparasitológicos dentro de 7 a 10 dias.
     É recomendado o exame em três amostras consecutivas colhidas em dias alternados, pois os cistos são excretados de forma intermitente, evitando assim os falsos negativos.
     Além disso, existem animais considerados "baixo excretores", estes podem passar um período de até 21 dias sem eliminar cistos.
     Existe certa dificuldade para o encontro da Giárdia nos exames, principalmente naqueles animais que já foram tratados com medicamentos antidiarreicos ao apresentar sintomas. Devido a isso, muitas vezes o diagnóstico é terapêutico, ou seja, a diarréia cessa após o tratamento com medicações contra o protozoário e conclui-se que o animal era positivo para giardíase.

·   O tratamento...
     Faz parte do tratamento a eliminação do parasita no animal e no ambiente. A terapia pode ser feita com antibióticos ou antiparasitários específicos, com tempo de tratamento apropriado variável de 3 a 7 dias. Não há uma droga 100% eficaz em todos os casos, portanto, a falha na resposta ao tratamento com a droga não exclui o diagnóstico de giardíase. Os testes de triagem das drogas estão baseados na remoção dos cistos das fezes, porem é possível que os organismos ainda estejam no trato intestinal, que haja inibição de produção de cistos por um período de tempo e ocorra uma infecção futura.
     A eliminação da Giárdia spp. pode ser difícil devido ao fato de ela poder tornar-se resistente a algumas drogas, devido à baixa imunidade do hospedeiro ou outra doença associada favorecer sua permanência no organismo e pela fácil reinfecção do animal, uma vez que os cistos são resistentes às influências do meio ambiente (resistem por até duas semanas) e basta um baixo número de cistos para que o animal se contamine. A sobrevivência dos cistos na água depende da temperatura, eles podem permanecer viáveis por até dois meses em água a 8°C, e por apenas quatro horas em água a 37°C.
     A autoinfecção externa também pode ocorrer pela presença de cistos nos pelos do animal, por isso o período pré-patente para Giárdia é extremamente curto, pois é possível um animal se reinfectar e excretar cistos, 5 dias depois do último tratamento.
    Os animais de rua ou aqueles densamente abrigados em canis ou gatis estão mais expostos, devido ao maior contato com água, alimentos e fezes de animais ou de pessoas contaminadas.
     A profilaxia é feita através da limpeza do ambiente, boa lavagem dos alimentos para consumo e ingestão de água filtrada. Para desinfecção do ambiente são recomendados desinfetantes a base de amônia quaternário e alcatrão de pinho, cuidando para que a água utilizada não atinja outros ambientes de moradia dos animais, causando falha no processo.
     Atualmente não se encontra disponível, porém foi bastante utilizada há pouco tempo uma vacina especifica para Giárdia spp., porem sua eficácia protetora não está bem testada. Há estudos que demonstram não ter sido uma medida efetiva no combate a doença.

· A epidemiologia...
     No Brasil, vários estudos epidemiológicos foram realizados mostrando percentuais de prevalência diferenciados conforme a região analisada. A maior controvérsia em epidemiologia é se a giardíase é ou não transmitida do homem para os animais e vice-versa. Animais considerados como possíveis focos de infecção são roedores, cães, gatos e animais silvestres. Cistos de Giárdia, proveniente de humanos podem infectar muitas espécies animais.
     A infecção por Giárdia, é mais preocupante em animais, pois estes apresentam poucos sintomas e sinais clínicos da infecção e respondem mal aos tratamentos, servindo como fontes de infecção e podendo eliminar cistos pelas fezes por meses ou anos.

· Conclusão...
    Apesar de ser tão comumente citada como diagnóstico, justificando episódios de diarréia em pequenos animais, fica evidente que o diagnóstico da doença não é fácil e deve sempre estar presente na lista de diagnósticos diferenciais, porém deve-se ter cuidado para afirmar que seja o real diagnóstico.
    É importante que se trabalhe com a prevenção da doença, pois além de ser uma zoonose, pode ser a causa da morte de animais jovens ou bastante debilitados. Prevenir é simples, pode ser feito através de vermifugação adequada, com princípio ativo e esquema de tratamento corretos, os quais devem ser definidos sempre por um médico veterinário.


Referências
NELSON, R.W., COUTO, C.G.. Medicina Interna de Pequenos Animais. Pág. 429-430. 3ª edição, 2006.
BRINKER, J.C., TEIXEIRA, M.C., ARAUJO, F.A.P.. Ocorrência de Giárdia sp. em cães e gatos no município de Caxias do Sul, RS. Revista da FZVA. Uruguaiana, v.16, n.1, p. 113-119. 2009.
Giardíase em animais de companhia – disponível em http://patologia.bio.ufpr.br/posgraduacao/teses/2007/dissertacaopaola.pdf

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Otite em cães e gatos


      A otite nada mais é que qualquer tipo de inflamação do ouvido, podendo ser uni ou bilateral, sendo este quadro clínico rotineiro em qualquer clínica veterinária. Ela pode ser classificada quanto à região de acometimento do canal auditivo e pode ter diferentes causas.
     A orelha é dividida anatomicamente em orelha externa, formada pelo pavilhão auricular e conduto auditivo, o qual termina na membrana timpânica; orelha média, formada pela bula timpânica (a qual faz comunicação com orelha externa e interna e com a faringe) e trompa auditiva; e orelha interna, formada pelos labirintos ósseo e membranoso, responsável pela audição e equilíbrio. Diante desta divisão, classificamos a otite como externa, média e interna, respectivamente.
·         Otite externa
     A otite externa, como o próprio nome diz, acomete a região mais externa da orelha, sendo aquela otite que o proprietário consegue enxergar com facilidade. Pode ocorrer por parasitas como ácaros causadores de sarnas (Demodex canis, Otodectes cynotis, Sarcoptes scabiei, Notoedres cati) e por carrapatos; ser decorrente de fungos e leveduras (Malassezia pachydermatis); pode estar associada a doenças de pele, como dermatite alérgica alimentar, dermatite por contato, atopia e doenças imunomediadas; pode ser secundária a doenças hormonais como hipotireoidismo; e pode ser decorrente de neoplasias. Pode-se dizer que 50% dos casos de otite externa em gatos são causadas pelo ácaro Otodectes cynotis, conhecido como "sarna de ouvido". Filhotes de cães e gatos são mais propensos a este tipo de agente causador de otite externa.
       Há três causas predisponentes para o desenvolvimento de otite externa: excesso ou aumento da umidade no canal auditivo, o que pode ocorrer pelo descuido durante o banho e também pelo clima úmido e quente, permitindo maior retenção de umidade nas orelhas; canal auditivo mais estreito, como ocorre, por exemplo, em cães da raça Sharpei; e obstrução do canal auditivo. Normalmente há bactérias que colonizam os canais auditivos, diante dessas causas pode ocorrer colonização por bactérias secundárias e se desenvolver a doença. Quando mal curada ou não tratada pode tornar-se crônica, tornando o lúmen do canal externo mais estreito e calcificado, dificultando a resolução do quadro e podendo levar a obstrução do canal. Secundariamente bactérias produtoras de pus, fungos e leveduras se instalam no local lesionado, agravando o quadro clínico.
     Cães e gatos de qualquer idade ou raça podem desenvolver a otite externa, porém são mais predispostos cães de orelhas longas e pendulares, como Cocker e Basset hound, e cães com excesso de pelos no canal auditivo, como os poodles. O Cocker apresenta maior predisposição a desenvolver o problema por poder apresentar um excesso na produção de secreção pelas glândulas sebáceas do canal auditivo.
     Normalmente o animal com otite coça as orelhas e agita a cabeça constantemente; nota-se algum tipo de secreção presente, podendo ser pus ou uma secreção marrom-escura a enegrecida, a qual sempre deve ser avaliada quanto à presença de parasitas; quando mais crônico, nota-se secreção purulenta com odor fétido no local.
      O diagnóstico é simples, mas saber a causa do problema nem sempre é fácil. Pode ser necessário cultura para bactéria e/ou fungos e antibiograma do material coletado nos condutos de forma estéril para identificarmos o agente causador e a que tipo de medicação ele é sensível.
      O tratamento consiste no uso de drogas tópicas associadas ou não a drogas orais ou injetáveis. É sempre necessária a avaliação veterinária antes do tratamento, garantindo que não haja lesão da membrana timpânica, pois se houver, algumas medicações podem causar intoxicação no animal. Antes de se iniciar o tratamento é necessária limpeza correta dos condutos auditivos, a própria secreção pode inativar algumas drogas ou não permitir que a medicação seja absorvida. Em casos de recidiva indica-se a cultura para encontrar o agente causador e antibiograma para definir a droga de escolha e reavaliação do animal para certificar-se que não há otite média associada. Quando o tratamento médico falha ou há crescimento de massas ou estenose do conduto, o tratamento passa a ser cirúrgico.

·         Otite média e interna
     A otite média pode ser causada por bactérias, fungos, leveduras, neoplasias, traumas ou corpos estranhos e também pela formação de pólipos inflamatórios ou nasofaringeanos, correspondentes a massas benignas que podem se formar no conduto auditivo. No entanto, a causa mais comum em cães e gatos é a infecção bacteriana, comumente consequente de otite externa crônica.
     Assim como a otite externa pode evoluir para otite média, a otite média pode evoluir para a otite interna, devido à extensão da inflamação da membrana timpânica.
     Em animais de meia idade é mais comum a otite média ser secundária a otite externa; cães idosos são mais propensos ao desenvolvimento de neoplasias e gatos a formação de pólipos inflamatórios, sem predisposição sexual ou racial.
     Os sinais clínicos são os mesmos da otite externa, como coceira nas orelhas e a agitação da cabeça de forma excessiva, podendo haver odor ruim e dor ao manipular regiões próximas ao ouvido. O animal pode apresentar dor ao comer e ao abrir a boca. Em casos de neoplasia que se estenda para a nasofaringe, o animal pode apresentar engasgo, esforço de vômito e dificuldade respiratória. Quando pólipos estão presentes pode haver como sintomas espirros, corrimento nasal e ruídos respiratórios.
     A otite interna pode causar o que chamamos de sinais vestibulares, nos quais o animal pode apresentar inclinação da cabeça, andar em círculos e queda para o lado do ouvido acometido, pode andar de forma incoordenada e permanecer com os olhos realizando um movimento involuntário, o que chamamos de nistagmo. Casos mais graves podem causar paralisia do nervo facial, levando a alterações como diminuição do reflexo palpebral, queda da orelha e lábio, salivação excessiva.
     A membrana timpânica pode estar rompida e para o adequado exame destes animais (otoscopia), pode ser necessária anestesia geral deste animal.
     O exame radiográfico pode auxiliar no diagnóstico de neoplasias e formações como pólipos, porém não é um exame sensível para o diagnóstico de otite média, sendo mais indicada a tomografia computadorizada.
      O tratamento adequado consiste na limpeza dos condutos, tratamento da otite externa intercorrente, eliminação do agente causador e uso de antibiótico tópico e sistêmico, devendo apresentar melhora em até quatro semanas, do contrário, o quadro passa a ser cirúrgico, visando uma abertura da bula timpânica, o que, geralmente resolve o problema e não causa interferência significativa na audição. Quando sinais neurológicos estão presentes, estes não melhoram após intervenção cirúrgica e podem não intervir na qualidade vida do animal.
·         Conclusão
      Apesar das possíveis complicações que a otite pode trazer, é tida como um problema comum, considerado por muitos como uma “coceirinha que vem depois do banho”. Sim, ela pode ser um quadro clínico simples, mas quando mal curado, tratado indevidamente, pode tornar-se crônico e trazer consequências ruins ao animal.
     Um dos erros mais comuns é o uso da medicação por tempo inapropriado. A maioria dos proprietários para com o tratamento logo nos primeiros dias, quando os sintomas já deixam de existir, porém, para evitar recidivas e acabar com o problema, o tempo de tratamento deve ser longo, determinado por um médico veterinário, que deverá fazer o acompanhamento semanal do quadro clínico e a higienização adequada dos ouvidos, permitindo melhor ação da droga utilizada.
     Deve-se ter cuidado durante o banho e com animais expostos a chuva, procurando secar os ouvidos para evitar que a umidade permaneça como fator predisponente. Sempre que houver a introdução de um filhote na residência e este apresentar coceira nas orelhas, investigar pela presença da sarna otodécica, sendo esta transmissível para outros animais. Vale lembrar que nem todas as medicações para otite, disponíveis no mercado, atuam contra a sarna de ouvido, sendo necessário investigar quanto a presença do ácaro na secreção.  
      Na presença de sintomas procure um médico veterinário para avaliação do quadro o mais rápido possível, para que se tenha o diagnóstico correto e evite que o quadro clínico torne-se crônico e traga danos à qualidade de vida do seu animal.
          Otodectes cynotis - ácaro causador da "sarna de ouvido"

 Referências
FOSSUM, T.W., et al. Cirurgia de Pequenos animais. Capítulo 19. Pág. 231-248. 2ª edição, 2002. Editora ROCA.