terça-feira, 27 de março de 2012

Sobre Demodicose ou Sarna Negra...

          A demodicose, popularmente conhecida como sarna negra, é uma doença de pele que acomete comumente os cães e muito raramente os gatos. Os ácaros causadores da doença em cada espécie são distintos, portanto, vamos nos deter apenas nos cães.       
         O ácaro Demodex canis vive normalmente no folículo piloso e glândula sebácea de cães, sua principal forma de transmissão é através das mães para o recém-nascido durante os primeiros dois a três dias de vida, podendo ocorrer muito raramente a transmissão entre adultos que convivem no mesmo ambiente. Este ácaro vive de forma comensal na pele de todos os cães, exceto naqueles que nasceram de cesariana e não tiveram contato com a mãe nos primeiros dias de vida, e apresentam a doença os animais que estiverem com a imunidade comprometida. Em situações de estresse como cio, gestação, viagem, procedimento cirúrgico; em situações de má nutrição e terapia imunossupressora esses ácaros podem sofrer um supercrescimento e o animal manifestar a doença. Vale lembrar que a doença não é transmitida para gatos e humanos. 
          A demodicose pode se dar de forma generalizada ou localizada, sendo a segunda forma mais comum em filhotes de três a seis meses de idade, tendo como característica regiões sem pelos, podendo estar avermelhadas e com escamação. Normalmente este tipo de sarna não causa prurido, a menos que as lesões estejam contaminadas de forma secundária por bactérias.
          A demodicose generalizada é mais comum, sendo classificada como: surto juvenil, quando acomete animais de 3 a 12 meses de idade, relacionada à deficiência hereditária de linfócitos T (células de defesa); surto adulto, quando acomete animais de meia idade a idosos, tendo como causa algum fator ou doença que cause queda da imunidade; e pododermatite crônica, quando acomete as patas do animal. Sua característica é acometer duas ou mais regiões do corpo, havendo cinco ou mais lesões focais, apresentando queda de pelos e escamação, pode coçar, formar crostas e lesões na pele.
          Todo animal que apresente lesões dermatológicas deve ter como diagnóstico diferencial a sarna negra.
          As figuras abaixo mostram dois casos de cães acometidos de forma generalizada pela doença.





           O diagnóstico da doença é fácil e simples, na grande maioria das vezes basta que o veterinário realize um raspado de pele profundo das lesões e observe ao microscópio a presença de ácaros em diversos estágios de desenvolvimento: adultos, ninfas, larvas ou ovos. É necessário que o animal esteja pelo menos uma semana sem banho para a realização do exame, evitando assim um resultado falso negativo.
Visualização do raspado de pele ao microscópio
          Em casos onde o raspado de pele tem resultado negativo, mas as lesões são compatíveis e sugestivas de demodicose, o veterinário pode sugerir ao proprietário o exame histopatológico, sendo este um exame mais detalhado de camadas da pele onde se pode encontrar ácaros mais profundos, sendo indicado em cães de pele muito grossa como os da raça Sharpei.
          O tratamento deve ser instituído por um profissional da área, podendo ser tópico, através do uso de xampus apropriados; para cães com menos de 20kg pode ser feito através do uso de coleiras apropriadas ou por via oral com a medicação mais adequada ao caso. Animais de pelo longo devem receber tosa com tesoura, evitando o uso de máquinas e lâminas. Independentemente da terapia escolhida o tratamento é longo, podendo se prolongar por semanas a meses. O tempo médio de tratamento é de 4 a 6 semanas. O animal deve receber alta quando o raspado de pele der negativo, portanto, o proprietário não deve parar com a terapia antes da realização de um novo exame, mesmo que o animal apresente melhora evidente do quadro clínico. A suspensão precoce da terapia resulta em recorrência da doença.
         Na forma generalizada deve-se instituir tratamento para as causas subjacentes da doença. Animais que estiverem recebendo terapia com corticoides devem ter a suspensão da mesma, uma vez que sua administração favorece o supercrescimento destes ácaros por deprimir a imunidade dos cães.
         O prognóstico da sarna demodécica localizada é bom, sendo que a maioria dos casos são resolvidos dentro de 4 a 8 semanas, no entanto, há casos que evoluem para a forma generalizada, a qual tem prognóstico bom a reservado. Nestes casos pode haver recorrência e os cães necessitarem de tratamento periódico ou por toda sua vida.  
          Aos portadores da doença é indicada a castração, mesmo para aqueles portadores da forma localizada. Como já mencionado, o cio e a gestação podem disparar a ocorrência da doença e devido à predisposição hereditária esses cães não devem se reproduzir, evitando o nascimento de animais com o problema.

Referências bibliográficas

WILLEMSE, T.. Dermatologia clínica de cães e gatos.pág.32-34. 2ª edição, 2008, editora Manole.
HNILICA, K.A.. Dermatologia de pequenos animais - atlas colorido e guia terapêutico.pág 123-131. 3ª edição, 2012, editora Elsevier.

domingo, 18 de março de 2012

Como está o coração do seu bichinho???

 Com o envelhecimento cães e gatos também podem apresentar problemas cardíacos e o proprietário deve estar atento aos sintomas apresentados para que inicie um tratamento precoce e possa prolongar a expectativa de vida do seu animal de estimação.
          É natural que o animal idoso reduza gradativamente o grau de atividade física com o passar dos anos, mas quando esta redução ocorre de forma abrupta pode ser um indício de doença cardíaca.
     São sinais clínicos de alterações cardíacas: tosse semelhante a um engasgo, principalmente noturna, podendo também ocorrer a qualquer hora do dia; cansaço fácil e intolerância a exercícios; aumento da freqüência respiratória ou dificuldade respiratória, podendo apresentar-se inquieto, com dificuldade para permanecer deitado, buscando manter-se apoiado com os cotovelos no chão e com o pescoço esticado; episódios de fraqueza e desmaios; língua com coloração arroxeada ou azulada (cianose); e em quadros avançados podem apresentar emagrecimento acentuado (caquexia cardíaca). Gatos não costumam respirar com a boca aberta, exceto quando apresentam dificuldade respiratória, podendo ser um indicativo de problema cardíaco.
    Os cães idosos são mais acometidos em relação aos gatos. As cardiomiopatias ou as doenças do miocárdio, apresentam diferentes graus e as mais comuns estão citadas abaixo.
        A insuficiência valvular ou endocardiose acomete mais comumente cães de raças pequenas e médias, de meia idade a idosos e caracteriza-se pela presença de sopro durante a auscultação do coração e tosse em qualquer período do dia, além dos sintomas de doença cardíaca já mencionados.
       Cães de raças grandes ou gigantes, como Doberman, Labrador, Golden Retriever, São Bernardo, entre outras, são mais predispostos ao desenvolvimento da cardiomiopatia dilatada, caracterizada por um aumento generalizado do coração.
     A cardiomiopatia hipertrófica, na qual o coração apresenta um enrijecimento muscular, acomete mais comumente gatos de qualquer raça, sendo pouco comum em cães.
       A endocardiose bacteriana corresponde a uma infecção das válvulas cardíacas por algum tipo de bactéria. É mais comum em cães que em gatos e tem como principal causa a exposição a grande número de bactérias decorrentes do tratamento odontológico para extração de tártaro sem terapia antibiótica prévia.
  Doenças congênitas, ou seja, aquelas que o animal apresenta desde o nascimento, são mais raras, mas também podem acontecer, como a Tetralogia de Fallot e a persistênca de ducto arterioso.
  Raças como Boxer, Cocker e Doberman são exceções e podem apresentar doenças cardíacas sem idade definida.
         Por último vale a pena citar a dirofilariose, uma doença cardíaca causada pelo verme Dirofilaria immitis, popularmente conhecido como verme do coração, o qual se instala no coração de cães e em menor proporção gatos e outros mamíferos, de qualquer idade, causando perda da função cardíaca, tosse crônica e problemas respiratórios. Tem maior prevalência em cidades litorâneas e a doença pode ser prevenida através de vermifugação adequada.
         Para que o clínico possa diagnosticar adequadamente o tipo de problema cardíaco apresentado pelo animal é necessário que sejam realizados exames complementares como raio-x de tórax, eletrocardiograma, ecocardiografia e aferição da pressão arterial sistêmica.Nem sempre a realização de todos os exames é possível devido ao custo dos mesmos, sendo o veterinário responsável pela requisição do exame mais adequado para cada situação.
         O raio-x permite avaliar alterações pulmonares e o tamanho do coração; o eletrocardiograma avalia o ritmo do batimento cardíaco; e a ecocardiografia avalia se a função cardíaca está preservada.
      Após o diagnóstico correto o animal deve receber as medicações adequadas ao tipo de doença detectada e o proprietário deve comprometer-se a medicá-lo diariamente, respeitando os horários e estando atento às recidivas de sinais clínicos. Todo animal com problema cardíaco deve ser pesado regularmente para reajuste das doses e o acompanhamento clínico mensal é indispensável aos animais com doença cardíaca moderada a grave. Para aqueles com doença cardíaca leve recomenda-se no mínimo acompanhamento semestral. Também é importante a redução da atividade física proporcionalmente ao grau de doença apresentada, restrição da ingestão de sal e controle da obesidade (em animais também é responsável por causar hipertensão arterial sistêmica).
         O cuidado com a dieta favorece o bom controle do não desenvolvimento da doença em resposta  à  hipertensão. Rações de baixa qualidade podem não informar o teor de sal de maneira correta, o que pode ser prejudicial ao animal. É indicada uma dieta a base de ração de boa qualidade ou até mesmo rações específicas para pacientes cardíacos. Para aqueles que recebem dieta a base de alimento caseiro, é importante o cuidado com o excesso de sal e não é indicada a restrição total ao mesmo, devendo haver um consumo adequado ao grau da doença.  O proprietário pode adicionar pequenas quantidades de alho e cebola ao alimento preparado, assim torna-o mais saboroso. Animais obesos não devem receber petiscos.
         O prognóstico destes animais é bastante variável, sendo sempre mais favorável quando o diagnóstico correto e a terapia instalada são precoces, aumentando as possibilidades de controle do problema e prevenção da evolução da doença.



sábado, 10 de março de 2012

Vacinação



    A vacinação de cães deve ser iniciada aos 45 dias de vida, devendo então receber a primeira dose de V10, a qual previne o animal contra cinomose, parvovirose, hepatite infecciosa canina, adenovirose, coronavirose, parainfluenza canina e leptospirose.
    Após a primeira dose da vacina, o animal deve ser revacinado em intervalos de 21 dias até completar 12 semanas de idade, sendo importante que o proprietário siga corretamente o período compreendido entre as vacinas para que esta seja efetiva. Os reforços são necessários devido ao fato do filhote possuir anticorpos maternos os quais interferem no desenvolvimento de sua imunidade ativa. Animais que iniciarem a vacinação após as 12 semanas de vida necessitam apenas de duas aplicações com intervalo de 21 dias, pois nesta idade os anticorpos maternos já não causam tal interferência.
    Gatos devem iniciar o esquema de vacinação a partir de 8 semanas de idade, recebendo proteção para rinotraqueíte felina, calicivirose, clamidiose e panleucopenia felina. O reforço deve ser realizado dentro de 21 a 28 dias após a primeira aplicação.
    A partir dos 4 meses de vida, cães e gatos devem receber a vacina anti-rábica, tendo esta como recomendação dosagem única. Em alguns municípios, filhotes recebem reforço após trinta dias quando vacinados durante a campanha anti-rábica.
   Cães ainda podem ser vacinados para Tosse dos canis e Giardíase, podendo iniciar a vacinação aos 60 dias de vida, recebendo reforço após 2 a 4 semanas. A vacina contra Leishmaniose (zoonose grave) também pode ser utilizada, sendo indicada para animais residentes nos municípios com incidência da doença ou do mosquito vetor.
    Todas as vacinas citadas necessitam de uma dose de reforço anual.
   É importante que o proprietário procure por um médico veterinário para realização das mesmas, o qual se responsabiliza pela boa procedência e armazenagem da vacina garantindo imunização adequada aos animais. Apenas animais sadios devem receber qualquer tipo de vacina, sendo necessária avaliação clínica antes da vacinação.