A
giardíase é causada pelo protozoário flagelado Giárdia sp, é considerada um grave problema de saúde coletiva pela
alta prevalência em humanos e animais e pela transmissão zoonótica. A Giárdia duodenalis é a causadora da
doença em animais e em humanos.
· A contaminação...
A
forma de contaminação mais comum nos animais e no homem é através da ingestão de
água contaminada com cistos de giárdia, podendo se dar também através dos
alimentos. Sua prevalência é variável, dependendo da localização geográfica, do
método utilizado para o diagnóstico e de fatores como a imunidade e condição
nutricional do animal infectado, assim como a patogenicidade do protozoário,
podendo causar um quadro assintomático, agudo ou crônico.
Acomete
mais comumente os caninos que os felinos. Acredita-se que sua casuística seja subestimada em pequenos animais
devido à baixa sensibilidade dos métodos convencionais de diagnóstico, das
infecções subclínicas e da natureza intermitente da eliminação de cistos.
Em animais adultos, a infecção costuma ser
assintomática, e raramente é detectada, sendo estes animais os prováveis
disseminadores no ambiente. Já
em animais jovens, com idade inferior a um ano, os sintomas e os sinais
clínicos podem estar presentes e a identificação do parasito é mais facilmente
obtida.
Após
a ingestão, o ácido gástrico presente no estômago ativa os cistos e permite a liberação dos trofozoítos, os quais
sofrerão divisão celular e migrarão para a superfície das microvilosidades
intestinais. Geralmente os parasitas são encontrados no
intestino delgado, onde interferem na digestão. Os cistos são expelidos nas fezes após um período pré-patente, que
varia de 6 a 14 dias. Após a ingestão por um hospedeiro apropriado, o ciclo se
repetirá.
A manifestação clinica da doença pode
preceder em um a dois dias a eliminação dos cistos.
·
Os sinais
clínicos...
Os
sinais clínicos apresentados por cães e gatos são cólica e diarréia discreta a
grave, a qual pode ser persistente, intermitente ou autolimitante, ou seja,
pode permanecer por tempo prolongado, ter períodos de recidiva seguidos de
melhora ou ocorrer de forma passageira, respectivamente.
Geralmente, os animais infectados
apresentam fezes de coloração pálida, amolecidas e com odor fétido. Normalmente
a diarréia não possui muco ou sangue, porém tem diversas apresentações. Alguns animais podem apresentar perda
de peso, anorexia, febre, vômitos e dor abdominal. A maioria dos casos são subclínicos,
especialmente em animais adultos.
·
O diagnóstico...
O encontro de cistos ou trofozoítos de
G. duodenalis presentes em amostras fecais são o meio diagnóstico
definitivo de giardíase, sinais clínicos e os testes biológicos laboratoriais não
garantem um diagnóstico definitivo. Contudo, um exame fecal negativo não
descarta a possibilidade de infecção.
O
diagnóstico pode ser dado das seguintes formas:
-
pela presença de trofozoítos nas fezes frescas ou no lavado duodenal (realizado
por endoscopia), uma técnica
diagnóstica que vem se mostrando mais eficaz do que a técnica usual de flutuação
em sulfato de zinco, principalmente em cães que apresentam os sinais clínicos
da doença, porém pouco utilizada devido ao alto custo da endoscopia e pela necessidade
de anestesiar o animal;
-
pelo encontro de cistos nas fezes por técnicas de flotação, utilizando-se uma
solução de sulfato de zinco, sendo essa a técnica diagnóstica confiável e mais
usual;
-
pelo achado de proteínas de giárdia nas fezes através de um exame chamado ELISA,
uma técnica imunodiagnóstica
que detecta antígenos nas fezes conservadas em formol ou mantidas sob
refrigeração;
-
e por técnicas de diagnóstico, como a imunofluorescência e a PCR, sendo estas
últimas ainda não disponíveis para diagnóstico de rotina.
Para
que possamos descartar um diagnóstico de giardíase, devemos realizar pelo menos
três exames coproparasitológicos dentro de 7 a 10 dias.
É
recomendado o exame em três amostras consecutivas colhidas em dias alternados,
pois os cistos são excretados de forma intermitente, evitando assim os falsos
negativos.
Além
disso, existem animais considerados "baixo excretores", estes podem
passar um período de até 21 dias sem eliminar cistos.
Existe
certa dificuldade para o encontro da Giárdia nos exames, principalmente
naqueles animais que já foram tratados com medicamentos antidiarreicos ao
apresentar sintomas. Devido a isso, muitas vezes o diagnóstico é terapêutico,
ou seja, a diarréia cessa após o tratamento com medicações contra o protozoário
e conclui-se que o animal era positivo para giardíase.
·
O tratamento...
Faz
parte do tratamento a eliminação do parasita no animal e no ambiente. A terapia
pode ser feita com antibióticos ou antiparasitários específicos, com tempo de
tratamento apropriado variável de 3 a 7 dias. Não há uma droga 100% eficaz em
todos os casos, portanto, a falha na resposta ao tratamento com a droga não
exclui o diagnóstico de giardíase. Os testes de triagem das drogas estão baseados na remoção dos
cistos das fezes, porem é possível que os organismos ainda estejam no trato
intestinal, que haja inibição de produção de cistos por um período de tempo e
ocorra uma infecção futura.
A
eliminação da Giárdia spp. pode ser
difícil devido ao fato de ela poder tornar-se resistente a algumas drogas, devido
à baixa imunidade do hospedeiro ou outra doença associada favorecer sua
permanência no organismo e pela fácil reinfecção do animal, uma vez que os
cistos são resistentes às influências do meio ambiente (resistem por até duas
semanas) e basta um baixo número de cistos para que o animal se contamine. A sobrevivência dos cistos na água
depende da temperatura, eles podem permanecer viáveis por até dois meses em
água a 8°C, e por apenas quatro horas em água a 37°C.
A autoinfecção externa também pode
ocorrer pela presença de cistos nos pelos do animal, por isso o período pré-patente
para Giárdia é extremamente curto, pois é possível um animal se
reinfectar e excretar cistos, 5 dias depois do último tratamento.
Os
animais de rua ou aqueles densamente abrigados em canis ou gatis estão mais expostos,
devido ao maior contato com água, alimentos e fezes de animais ou de pessoas
contaminadas.
A
profilaxia é feita através da limpeza do ambiente, boa lavagem dos alimentos
para consumo e ingestão de água filtrada. Para desinfecção do ambiente são recomendados
desinfetantes a base de amônia quaternário e alcatrão de pinho, cuidando para
que a água utilizada não atinja outros ambientes de moradia dos animais,
causando falha no
processo.
Atualmente não se encontra disponível,
porém foi bastante utilizada há pouco tempo uma vacina especifica para Giárdia
spp., porem sua eficácia protetora não está bem testada. Há estudos que
demonstram não ter sido uma medida efetiva no combate a doença.
· A
epidemiologia...
No Brasil, vários estudos epidemiológicos
foram realizados mostrando percentuais de prevalência diferenciados
conforme a região analisada. A maior controvérsia em epidemiologia é
se a giardíase é ou não transmitida do homem para os animais e
vice-versa. Animais considerados como possíveis focos de infecção são roedores,
cães, gatos e animais silvestres. Cistos de Giárdia, proveniente de
humanos podem infectar muitas espécies animais.
A infecção por Giárdia, é mais
preocupante em animais, pois estes apresentam poucos sintomas e sinais clínicos
da infecção e respondem mal aos tratamentos, servindo como fontes de infecção e
podendo eliminar cistos pelas fezes por meses ou anos.
·
Conclusão...
Apesar de ser tão comumente citada
como diagnóstico, justificando episódios de diarréia em pequenos animais, fica
evidente que o diagnóstico da doença não é fácil e deve sempre estar presente
na lista de diagnósticos diferenciais, porém deve-se ter cuidado para afirmar
que seja o real diagnóstico.
É importante que se trabalhe com a
prevenção da doença, pois além de ser uma zoonose, pode ser a causa da morte de
animais jovens ou bastante debilitados. Prevenir é simples, pode ser feito
através de vermifugação adequada, com princípio ativo e esquema de tratamento
corretos, os quais devem ser definidos sempre por um médico veterinário.
Referências
NELSON,
R.W., COUTO, C.G.. Medicina Interna de Pequenos Animais. Pág. 429-430. 3ª
edição, 2006.
BRINKER,
J.C., TEIXEIRA, M.C., ARAUJO, F.A.P.. Ocorrência
de Giárdia sp. em cães e gatos no município de Caxias do Sul, RS.
Revista da FZVA. Uruguaiana, v.16, n.1, p. 113-119. 2009.
Giardíase em animais de companhia – disponível em http://patologia.bio.ufpr.br/posgraduacao/teses/2007/dissertacaopaola.pdf